Por Luis Miguel Modino
Uma das premissas que devem, ou deveriam, fazer parte para ser nomeado auditor do Sínodo para a Amazônia é conhecer a realidade local e o próprio processo sinodal. No Padre Zenildo Lima, que vai fazer parte desse grupo de 6 a 27 de outubro, se dão essas duas premissas. Atualmente, ele é reitor do Seminário São José de Manaus, onde se formam os futuros presbíteros das nove dioceses e prelazias do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, e já foi secretário executivo do regional.
Bom conhecer da realidade social e eclesial na Amazônia e com grande aceitação pelos colegas presbíteros, ele se sente privilegiado em poder viver este processo sinodal, que ele não desliga do trabalho que a Igreja tem lhe confiado. Na entrevista, o padre amazonense aborda elementos relacionados com a formação presbiteral, que ele vê “como interpelação, como apelo, como solicitação e como questionamento”, desde uma “exigência de compreender novos modelos de ministerialidade para a Igreja que está na Amazônia”.
Tudo isso, sem deixar de abordar as questões que fazem referência a outros tipos de ministerialidade, algo assumido pela Igreja da região como parte de sua caminhada, mas que também provoca reações contrárias, inclusive entre os próprios seminaristas. Sem dúvida, o padre Zenildo Lima se apresenta como uma voz importante, dentro da assembleia sinodal, num campo que tudo indica vai estar presente no meio das discussões sinodais.
O Papa Francisco disse que o Sínodo começou oficialmente em Puerto Maldonado em janeiro 2018, pessoalmente como tem vivido esse tempo de processo sinodal ao longo de quase dois anos?
Primeiramente, eu não tenho desligado o processo sinodal do trabalho que a Igreja me confio nesses últimos anos, que foi a formação presbiteral como reitor do seminário e mais recentemente vinculado ao organismo dos seminários no Brasil que é a OSIB. Então, eu tenho vivido esses dois anos a partir da perspectiva da interpelação, eu acho que a principal voz do Sínodo chega para nós, nesse campo da formação presbiteral, como interpelação, como apelo, como solicitação e como questionamento. Tendo tido a oportunidade de participar de alguns momentos de processos de escuta, de sintetização de processo de escuta, e sobretudo no que diz respeito à questão da ministerialidade, sempre vi o trabalho do seminário muito implicado, nessa perspectiva e nessa exigência de compreender novos modelos de ministerialidade para a Igreja que está na Amazônia.
Um outro elemento muito importante é o link que o Sínodo faz com o Laudato si, na perspectiva da ecologia integral, o que dá uma nova abrangência para a nossa concepção da pastoral. E aí já faz o link com um outro trabalho, que eu tenho vivido também nos últimos tempos, que foi o trabalho da assembleia arquidiocesana. A gente percebe uma fragmentação da nossa pastoral e por consequência disso também uma fragmentação de respostas que não nos permitem um trabalho mais concatenado, um trabalho mais em rede que vai na raiz, nas causas de tantas mazelas que assolam a vida do nosso povo e que ameaçam a vida na Amazônia.
No Instrumentum Laboris, só uma vez, ele fala sobre os seminários, no número 98, ele diz, “procure-se a reforma da estrutura do seminário para favorecer a integração dos candidatos ao sacerdócio nas comunidades”. Desde sua experiência como reitor, como formador de futuros presbíteros, como deveria ser desenvolvida essa reforma da estrutura do seminário?
É curioso que essa provocação do Instrumentum Laboris, ela é posterior à promulgação do documento da ratio fundamentalis, que estruturalmente mantém o formato dos seminários, né. Agora, a ratio é um instrumento de uma abrangência global, e o Sínodo propõe realidades bem situadas e bem encarnadas. Hoje o modelo de seminário que nós temos, e o modelo dos seminários que nós temos na Amazônia, ainda corresponde a um modelo muito amplo, que não responde a todas as necessidades de compreensões evangelizadoras, né. Eu acho que antes de decidir o modelo de seminário, nós temos clareza do modelo de ministérios, não é. Não basta simplesmente mudar estruturas sem mexer no alcance final.
Primeiramente é preciso definir o modelo de ministério, e isso é próprio da teologia dos ministérios, ele é sempre determinado pelas necessidades da evangelização. Todo o processo do Sínodo vai deixando claro o tipo de resposta que a Igreja pode dar do ponto de vista ministerial aos clamores da Amazônia. A gente percebe a necessidade de um ministério mais marcado pela mobilidade, de um ministério mais marcado pela flexibilidade, e de um ministério também que tenha uma certa ousadia, que tenha uma certa dimensão de compromisso, mesmo com essa realidade. A partir daí nós percebemos o seguinte, que esse nosso modelo de seminário, essa estrutura de seminário para uma grande quantidade de seminaristas, ela talvez não corresponda com a possibilidade de outros modelos de cara à formação mais situados, mais inculturados.
Hoje uma dificuldade que nós temos no processo de acompanhamento de formação teológica é garantir uma formação teológica consistente nas diversas regiões da Amazônia. Nós fazemos uma concentração da formação em alguns polos, retirando os candidatos de suas realidades, né. Então, eu acho que precisamos pensar estruturas que levem em conta a peculiaridade das realidades, né. Hoje, na nossa dinâmica formativa, nós temos o papel do seminário, enquanto casa de formação, mas temos o papel do Instituto de teologia. Eu acho que a nossa experiência em Manaus já deu alguns passos nesse sentido, dada a natureza do nosso seminário e dada uma mínima possibilidade de interculturalidade.
Nosso seminário acolhe pessoas de pelo menos nove Igrejas diferentes. Da mesma forma, o nosso Instituto de teologia, ele possibilita uma reflexão teológica muito mais a partir da perspectiva dos apelos locais. A dificuldade é como a gente pode também possibilitar que essa experiência esteja mais presente nas Igrejas locais, como nós podemos manter um processo formativo garantido mais a presença dos nossos formandos na própria realidade, sem tê-los que retirar da realidade por um período demorado de sete a oito anos, para a preparação do ministério que depois vai ser exercido na comunidade. Talvez uma palavra que possa ajudar na nossa perspectiva estrutural seja a palavra da itinerância, para os nossos seminários, para nossas casas de formação.
Um dos números mais polêmicos do Instrumentum Laboris, com maior polémica tanto dentro como fora da Igreja, é o número 129, que fala sobre os ministérios. Provavelmente entre os seminaristas também deve ter provocado alguma reação. O que pensam os seminaristas sobre essas novas possibilidades de maior protagonismo das mulheres, da possibilidade da ordenação de homens anciãos casados, para poder celebrar os sacramentos nas comunidades mais distantes?
De imediato posso dizer que a reação dos seminaristas não é de uma adesão mais tranquila a essa proposta do Sínodo. Eu percebo na reação dos nossos candidatos uma certa inquietação e um certo receio também. É bom a gente ter presente que boa parte dos nossos formandos são oriundos de comunidades eclesiais com esse modelo presbiteral bem focalizado há bastante tempo, embora sejam comunidades eclesiais com muito protagonismo feminino. Um protagonismo feminino no exercício da evangelização mas não um protagonismo feminino no governo.
Então acho que eu tenho que reconhecer que a proposta é inquietante, mesmo para os nossos formandos. Existem aqueles que são mais abertos, que acolhem até com esperança essas propostas que vieram no Instrumentum Laboris, mas acho que aqui nós precisaríamos de um processo de conversão. Além da conversão ecológica, da conversão Pastoral, que o Sínodo nos propõe, da convenção de um modelo de comunhão, eu acho que a gente precisaria de um processo de conversão de perspectivas ministeriais historicamente concentradas no perfil masculino, no perfil de poder.
De fato, a gente é padre e a gente percebe que muitas vezes são os próprios padres os que estão colocando mais resistência ao Sínodo, inclusive os padres que moram, que trabalham aqui na Amazônia. Porque essa resistência, porque esse receio diante de uma abertura para um trabalho mais em sinodalidade, para provocar a possibilidade de caminhar junto como Povo de Deus?
Eu imagino que o Sínodo tem que trazer essas duas grandes linhas de provocações, novos caminhos para a Amazônia, quando nos coloca diante da perspectiva da ecologia integral, mas também o Sínodo, ele está pedindo novos caminhos para a evangelização. O fato que nós somos daqui, que nós somos amazônidas, que nós somos da região, que nós somos nativos, mas também nós somos formados, educados, dentro de um modelo eclesial predominante. Há uma necessidade muito ampla de um processo de reflexão e nem sempre nós participamos desses processos, nem sempre nós participamos desses debates, nem sempre nós nos colocamos nessas perspectivas da reflexão que se abre para o modelo mais participativo. Eu acho que aqui nós temos alguns limites dos nossos processos formativos, nós temos alguns limites dos nossos processos eclesiais, que foram petrificando como processos predeterminados, como processos menos dialogais, como processos menos sinodais.
De certo modo, o Sínodo para a Amazônia ao nos apresentar essa perspectiva da sinodalidade, retoma o que a gente já falava em Aparecida da conversão Pastoral. Ele retoma as provocações da Evangelii Gaudium, que ainda não foram de todo assimiladas. Então, essa rejeição ou essa dificuldade de aceitação do Sínodo não é simplesmente pelo fato de ser daqui ou de não ser daqui, mas também pelo fato de ter vivido experiências eclesiais muito petrificadas em modelos muito autoritários. Independentemente de onde se nasceu, mais muito mais a partir de que experiências eclesiais se tenha vivido.
Entre os formandos que estão no seminário de Manaus tem seminaristas que são indígenas, e isso nos leva a refletir em primeiro lugar que aqueles que o Papa Francisco insiste em escutar mais são os indígenas. Também outra situação que já falou sobre seminaristas que saem de sua realidade e vem para Manaus, por seis sete, oito anos, o tema da inculturação, das línguas indígenas, nas celebrações. Esses seminaristas que são indígenas, como se posicionam diante dessas realidades?
Com a atitude que é própria do indígena. Nós temos um grupo pequeno, já foi mais numeroso. Nós temos indígenas da região do Rio Negro e também de Roraima, temos macuxi e temos também das etnias da região do Rio Negro, baré, tukano, e não fazem frente, não fazem conflitos, aparentemente são bastante calados, tem o seu modelo próprio de resistência, e que parece aderir a tudo aquilo que nós estamos propondo, mas têm as suas próprias convicções. Isso não atrapalha o processo, é legal. A gente reconhece que uma casa como a nossa, que abriga, que acolhe todas essas etnias, tem muito que caminhar nessa questão da inculturação ou da interculturalidade, que nós estamos falando nessa questão de acolher elementos dessas etnias, até mesmo na vida litúrgica, cotidiana, do seminário.
O que nós temos são pequenos ensaios, o que nós temos são pequenos momentos, o que nós temos são alguns cantos que a gente já agrega na nossa liturgia, mas ainda não temos uma mexida mais estrutural. Agora, eles são uma presença bastante questionadora na casa, eles são questionadores de seu próprio modelo formativo, porque é tudo uma reflexão filosófica e teológica com uma partida desde nossas categorias ocidentais, e do ponto de vista acadêmico, as interpelações, as reflexões, e até mesmo as construções acadêmicas, no que diz respeito às monografias, aos artigos deles já nos proporcionam uma guinada de uma conversão para a inculturação e para a interculturalidade.
Depois o convívio deles com os demais seminaristas, eu acho que nos ajuda a perceber que a presença dos indígenas aqui na nossa casa, não se trata de um grupo especial, mas daquilo que é a identidade da Amazônia. Eu acho que em um seminário como o nosso, a gente consegue perceber a complexidade e a diversidade desta riqueza a partir desses grupos culturais também. Ainda o fato que a presença deles no seminário exige de nós também uma profunda revisão das nossas propostas formativas. As nossas propostas formativas desconhecem, somos desconhecedores da riqueza dessas etnias, das duas categorias, de todo esse universo religioso, e como a gente fazer o diálogo entre a proposta cristã, e a reflexão que nós fazemos à proposta cristã por meio da teologia, com toda riqueza da carga da experiência religiosa já presente nessas populações. E aí, mais uma vez, vem uma tarefa que não é somente do seminário, mas que implica também o Instituto de Teologia.
O que é que que esses futuros padres indígenas, ou os padres indígenas que já passaram pelo seminário, e hoje vivem esse ministério em algumas dioceses, como São Gabriel da Cachoeira, desde seu ponto de vista, o que é que de especial, de diferente, estão aportando, ou podem aportar, à Igreja da Amazônia?
Primeiramente a concentração da atuação tem ficado na região mesmo do Rio Negro, na diocese de São Gabriel da Cachoeira, de onde foram provenientes as vocações e onde nós tivemos as últimas ordenações. A atuação pastoral desses novos padres indígenas acontece dentro da dinâmica pastoral da própria Igreja de São Gabriel. Então, de certo modo, a atuação deles depende também do dinamismo da própria Igreja local, de modo que estruturalmente nós ainda não temos um avanço muito grande, mas nós temos muitos avanços se a gente considerar uma perspectiva mais pontual.
Falar de uma Igreja com rosto indígena com o número muito reduzido que nós temos de presbíteros indígenas, ainda é algo muito em perspectiva. Agora que nós temos o tipo de presença que eles exercem nas comunidades, o tipo de relação que eles estabelecem com as populações locais, o tipo de compreensão que eles têm do ritmo do povo. Então nesse sentido, o que a gente percebe pontualmente a partir da atuação desses presbíteros indígenas, que estão voltando com as suas comunidades indígenas, que estão em contato com as suas etnias e que permitem portanto um tipo de aproximação diferenciada, que talvez nós não tivéssemos a capacidade de fazer, acho que pode ser aí gerador de um movimento novo, de uma atuação pastoral nova, e de uma identidade nova do modelo presbiteral para aquela região.
Se trata ainda de questões muito pontuais, principalmente nesse aspecto, a capacidade que eles têm de estabelecer relações, a possibilidade que eles têm de compreender a partir das perspectivas das populações locais, o tipo de presença que eles garantem e que eles asseguram juntos das populações indígenas. Outros avanços que a gente espera seria pouco mais na perspectiva da liturgia, na perspectiva da celebração da fé em todo o processo dos sacramentos, no que diz respeito também à catequese e à reflexão teológica. Eu acho que são passos que nós ainda temos que dar. Temos alguns ensaios, nesse sentido a gente tem percebido a riqueza e as opções dos nossos formandos que são indígenas em abordar em seus trabalhos de conclusão de curso, em seus artigos de conclusão de curso, a partir das realidades locais, que isso tem que ser um pequeno sinal de avanço.
Antes de ser reitor do Seminário, já trabalhou como secretário do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e em consequência tem um conhecimento mais ou menos amplo da realidade das nove Igrejas que fazem parte do Regional. Desde p seu conhecimento, o que essas Igrejas podem aportar ao Sínodo para a Amazônia, e o que o Sínodo para a Amazônia pode aportar a essas Igrejas?
As Igrejas do Regional, eu acho que elas têm uma caminhada muito bonita. A gente toma como ponto de partida Santarém, mas as assembleias do Regional sempre foram de uma riqueza muito grande, uma riqueza acolhedora muito grande. As Igrejas, elas tem uma presença, uma capilaridade extraordinária junto às comunidades ribeirinhas, com um protagonismo do laicato de modo assim, fantástico. Do ponto de vista da ministerialidade, por exemplo, são Igrejas que não teriam dificuldades de acolher novas perspectivas ministeriais, novos modelos de exercício de ministérios, porque na prática muita coisa já existe nessas Igrejas, sem uma formalização e sem uma institucionalização.
São Igrejas que tem toda uma riqueza do protagonismo feminino. Eu vejo a vitalidade dessas comunidades eclesiais, não obstante, todo o tipo de ameaça que essas comunidades sofrem, do ponto de vista do abandono do poder público, do ponto de vista da aproximação de outras propostas religiosas, do ponto de vista dos próprios desafios do espaço natural, mas são comunidades que possuem uma vitalidade e essa vitalidade se deve a fé cristã, que foi semeada a partir de um trabalho missionário, com as lacunas que esse trabalho teve. Então, acho que essas Igrejas trazem para o Sínodo a vitalidade dessas comunidades. As Igrejas do regional trazem para o Sínodo essa atuação, esse protagonismo do laicato.
Um outro elemento que acho muito importante, e que as Igrejas do regional trazem para o Sínodo, é a compreensão que o exercício do ministério ordenado, ele é subsidiário. Basta verificar a história dos bispos da nossa região, homem simples, homens pobres, homens desprendidos, acho que é o modelo também de episcopado, e é uma grande contribuição das Igrejas do regional para o Sínodo da Amazônia. Quando a gente também pensa novos caminhos para Igreja, pensa novas modalidades de exercício do ministério episcopal e do ministério ordenado como um todo, né. Eu acho que há uma participação, são Igrejas que não teriam medo da aproximação do povo do ministério ordenado, né.
O Sínodo pode ajudar muito essas Igrejas, primeiramente no que diz respeito a confirmar a sua caminhada. Acho que o Sínodo pode dar uma grande chamada de atenção para experiências eclesiais que já são vividas na Amazônia, confirmando essas experiências e possibilitando o alargamento dessas experiências também. Acredito que o Sínodo pode também ajudar essas Igrejas a recuperar a força profética que elas tiveram na história, não é. Eu acho que nos últimos anos, devido a uma série de fatores as nossas Igrejas tiveram muita dificuldade de sustentar a profecia, como já foi mais evidente numa outra época em que o contexto é diferenciado. Eu acho que o Sínodo vai ajudar a devolver as nossas Igrejas esse sono profético que era muito contundente.
O Sínodo da Amazônia está nos ajudando a sustentar a sinodalidade como o caminho que sempre marcou a caminhada dessas Igrejas aqui da região, né. Sempre tivemos a sinodalidade como uma metodologia que pertenceu, né. As assembleias do Regional Norte 1, a colegialidade entre os bispos, a dinamização das pastorais, e das pastorais sociais. Uma das coisas que nós precisamos retomarmos, me sinto livre para dar nomes, é a gente resgatar a proximidade das Igrejas da região com o Conselho Indigenista Missionário – CIMI, e a comissão Pastoral da terra – CPT, que historicamente sempre foram dois braços muito ligados com a vida das Igrejas locais, das comunidades eclesiais, e quanto mais o Sínodo nos ajudara a emprestar essa voz, a somar essa voz com as populações indígenas e com as populações locais, nessa luta pelos territórios e pelas águas, eu acho que vai nos ajudar a retomar essa nossa caminhada, essa nossa história.
O senhor foi nomeado auditor do Sínodo para a Amazônia pelo Papa Francisco, é alguém muito conhecido e aceito entre o clero de Manaus, e não só de Manaus, como do regional todo. Sente-se a voz dos seus irmãos presbíteros amazônidas, dos padres que nasceram na Amazônia, e trabalham na Amazônia, sente que pode levar essa visão que que ajude a assembleia sinodal a ter uma perspectiva local para assumir uma proposta para a Igreja universal?
Primeiramente eu me sinto privilegiado porque eu me sinto uma fase intermediária, né. Alguns dos presbíteros desta região aqui, eu tenho como os meus mestres, como aqueles que foram meus inspiradores, que deram a vida talvez sem tanta consciência sistematizada, mas estavam aí numa disponibilidade tremenda, e que são inspiradores para mim. Outra parte do segmento de presbíteros da nossa região foram aqueles que já foram os meus alunos, então a gente teria possibilidade de refletir juntos a Teologia e principalmente a Teologia Pastoral. O presbitério, ou o clero que está presente na Amazônia, pelo menos no que diz respeito a nosso Regional Norte 1, não tem uma homogeneidade tão evidente, mas acho que é uma homogeneidade subjacente, que diz respeito a uma disponibilidade para a construção dessas Igrejas locais. Essa disponibilidade para construção das Igrejas locais, se faz a partir, como disse anteriormente, do dinamismo de cada Igreja, mas já há um grupo de grupo de presbitério, já há um presbítero local, que compreende que o seu papel passa pela solidificação dessas Igrejas, pela evangelização que se faz a partir da dinâmica dessas Igrejas locais, né.
Espero que no Sínodo, dentro daquilo que se permita na participação que nós é facultada, né, a gente possa levar a perspectiva de um presbitério que espera uma Igreja mais dinâmica, que espera na igreja mais acolhedora, que de fato possa dar sinais que a Igreja da Amazônia vai nesse caminho da Laudato Si, vai nesse caminho da Evangelii Gaudium, de uma Igreja em saída, de uma Igreja bastante comprometida com toda a realidade da vida, na perspectiva da ecologia integral. Acredito que nós não tenhamos uma voz uníssona, no diz respeito a clero para Igreja da Amazônia e para o Sínodo. Nós não fizemos, por exemplo, um momento nosso de presbíteros para acolher o documento preparatório e para indicar as nossas propostas também, a nossa participação como presbíteros, se deu nos diversos segmentos das Igrejas locais ou articulados pela Red Eclesial Pan Amazônica.
Mas acredito que possa também trazer uma palavra do Sínodo para nós, presbíteros, né, para compreensão do nosso ministério, e para as perspectivas que se espera do nosso ministério dentro de um contexto, de uma ministerialidade, mais diversificada também, né. Compreendo que levo ao Sínodo aquilo que percebo, aquilo que consigo ler nos presbitérios, boa parte eu conheço, nos presbíteros do nosso Regional, e quero trazer do Sínodo, provocações, interpelações, para o presbitério do nosso Regional.
Quais seriam suas considerações finais em referência ao Sínodo para a Amazônia?
Eu acho que estamos com uma certa expectativa, e mais do que uma expectativa, não é. Estamos num processo de comunhão muito estreito com o Sínodo, e evidentemente os nossos olhares vão se voltar para as discussões nas aulas sinodais, vão se voltar para o documento final do Sínodo, e também para a exortação apostólica pós-sinodal. Mas acredito também que temos que ter uma consciência muito grande que há uma riqueza extraordinária que o Sínodo já gerou e que já pode ser acolhida, e que já pode ser assimilada, e que já pode ser absorvida na dinâmica do nosso Regional Norte 1, na dinâmica das nossas Igrejas locais, na dinâmica das Igrejas na Amazônia, e na dinâmica dos nossos presbitérios também.
E aquilo que a gente, por ventura, sentir o experimentar que talvez o Sínodo não levou em conta, os processos de escuta, as reflexões, as sínteses, os documentos preparatórios, o Instrumento de Trabalho, o que foi apresentado até aqui, nada se perde. Eu acho que tudo aquilo que o documento final, que a exortação apostólica nos apresentar, vai ter um grande caráter de animação, de incentivo, de entusiasmo. Não vai dar todo o conteúdo numa exortação apostólica, eu acho que todo o conteúdo, essa dinâmica que a gente já viveu, então eu não vejo, eu não tenho nenhum receio de perdas no Sínodo.
Pode ser que nós tenhamos carência de algumas acentuações de realidades que nós conhecemos, que fossem mais acentuadas, mas acho que nós não teremos nenhuma perda, porque tudo isso que já foi gerado, que já foi trabalhado, há um grande material, há um grande conteúdo que as nossas dioceses, as nossas Igrejas, elas possam retomar. O mais importante agora, eu acho que nessa perspectiva de sínodo, a gente agora dá uma voz de universalidade a esta temática fundamental que é a temática da ecologia integral, que é uma grande possibilidade de síntese de toda a nossa atuação pastoral. O Sínodo está acontecendo, o Sínodo vai continuar, e mesmo após e exortação apostólica pós-sinodal, o sínodo vai seguir nas Igrejas locais.